domingo, 18 de outubro de 2009

V Festival Nacional de Teatro em Vitória

Vitória em Óidipous

Quero parabenlizar Antonio Quinet e todos os integrantes da Cia. Inconsciente em Cena pela belíssima apresentação de Oidipous no V Festival de Teatro de Vitória ES no dia 14 de outubro.
Os 650 lugares do Teatro da UFES foram esgotados, e todo esse público silenciosamente, acompanhou emocionado e atentamente o desenrolar da tragédia.
Esta foi à terceira vez que assistir a esse espetáculo, e a terceira vez que me emocionei com a estética e densidade desta peça. Porém, esta última apresentação trouxe algumas modificações e novos elementos que tornaram a peça mais bela, a movimentação cênica mais madura e trágica, como:
A participação brechtiana do diretor Antonio Quinet, trouxe maior compreensão à história de seus personagens, além de oferecer ao espectador um tempo de reposicionamento e direcionamento do desenrolar trágico.
A música de José Eduardo Costa Sila executada ao vivo que é belíssima, nos envolve na trama do espetáculo, levando-nos a sermos partícipes da ação.
Ao trazer para o palco, o Avesso da tragédia Édipo Rei de Sófacles de 2500 anos, somos convocados ao encontro com nossa determinação significante, a nossa pouca liberdade como sujeitos, através do desvelamento das causas que levaram Édipo ao encontro trágico de sua história.
Poderia Édipo fazer diferente?
Se ao nascer foi entregue para morte pelo seus próprios pais (Filicídio), se anterior a sua transgressão (o incesto) já havia a transgressão de seu pai Laios em relação a Lei de Hospitalidade da época, sendo inclusive esta, a causa de sua maldição, a peça nos impõe a pergunta,
Qual é então, a responsabilidade de Édipo?
A resposta mostrada por Quinet na apresentação desta tragédia é o “Não querer saber nada disso” de Édipo num momento anterior a descoberta de sua verdade. Pois, se até um bêbedo na cidade em que Édipo vivia conhecia sua história, e em seus pés e em seu nome essa verdade já se revelava, porque Édipo não quer saber nada disso, insistindo em continuar gozando de sua ignorância e indo tão cegamente ao encontro de seu destino?
Assim, podemos pensar que nesta transcriação de Antonio Quinet, encontramos todos os principais personagens não abrindo mão de seu gozo: Nem Laios, Nem Jocasta, Nem Édipo, levando a todos ao encontro trágico com a morte e a responsabilidade de cada em seu próprio gozo!

Ana Maria Domingues Carvalho, psicanalista em Vitória

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