segunda-feira, 23 de março de 2009

Ela diz não, então vá !

Artigo de João Carlos Moura sobre crítica de Bárbara h
Heliodora em o Globo de sábado 21/3/09

No Rio estreou uma peça que já é sucesso em sua curta temporada. Imperdível : Óidipous, filho de Laios - A História de Édipo Rei pelo Avesso, releitura de Sófocles feita com absoluta criatividade pelo psicanalista e dramaturgo Antonio Quinet.
Quinet é um dos mais brilhantes psicanalistas brasileiros, seus livros já são traduzidos para vários paises, e não raro quando faz palesta no exterior ( EUA, Inglaterra, França...) as salas lotam. É dos lacananianos puros que segundo me disse o psicanalista frances ( em Búzios ) Dominique Inarra quando Quinet vai a Paris fazer palestra ele " fecha o consultório " e disputa lugar nas salas repletas. Quinet não se veste à Lacan, não faz trejeitos e fala para ser entendido. O seu sucesso na clinica é comprovado pelos resultados pró-vida que alcançam seus clientes.
Falo do Quinet psicanalista primeiro porque não posso imaginar psicanalista que não tenha cultura. Quinet é também grande admirador e colecionador de arte e decoração, e em suas peças de teatro artistas plásticos de alguma forma participam ; nos cenários, figurinos, vídeos etc, daí parte da riqueza visual sempre presente nas suas criações para o teatro que escreve e dirije.
Quinet não repete jargões do velho teatro, como desejaria a senhora Barbara Heliodora que ainda escreve em O GLOBO sobre " teatro " . Ela foi acusada de ser grande conhecedora de Shakespeare e isto lhe fez um grande mal : quando espera para ver a estréia de uma peça seus olhos recuam do século 18 para trás, até chegar à Grécia e às cavernas, começo do teatro.
E alí ela fica parada esperando ver o que não existe . Mas sem dúvida ela contribui imensamente para o teatro brasileiro quando fala mal de uma peça: eis então o segredo do seu "não" como um código a ser decifrado: o sucesso da peça ! Se ela diz " não " ao texto, aos cenários e figurinos, à interpretação dos atores e gente da qualidade de Regina Miranda ( responsável pela direção de movimento) é porque algo espetacular, novo, está em cena . E merece ser visto. E na primeira semana de apresentação no SESC do Rio ( Copacabana) as salas estão sempre lotadas. A revista VEJA deu destaque em meia página para a peça Óidipous recomendando como entre os espetáculos no Rio que merecem ser vistos.
Nesta montagem o clássico Édipo-Rei de Sófocles há uma transformação ( a mágica do teatro) - ou paralelo - entre o homem grego, o homem do Xingu, e o homem da cidade . Mais atualidade que isso impossível . Seria muito mais fácil que Quinet seguisse os manuais do bom tetro grego ( como desejaria a senhora de teatro ) do que ousar-ousar como faz com sucesso na peça em cartaz no Espaço SESC- Mezanino com 80 lugares . O espetáculo fica até 5 de abril. E Quinet dramaturgo já está também no primeiro time.

* psicanalista e artista plástico

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