domingo, 15 de março de 2009

A base da encenação

Decifra-me ou te devoro
Óidipous, filho de Laios é uma reflexão sobre a essência do homem e o caráter trágico de nossa civilização renegado pela mercantilização generalizada onde tudo tende a ser superficial, descartável e fluido. Como Édipo, temos que decifrar o enigma da Esfinge – O que é o homem? – e o enigma da peste – Por que tanta destruição? Não há mais deuses. É o homem que tem que responder. Quem não o faz vive como cego, é devorado pela Esfinge e sucumbe à peste da vida. É preciso retomar a dimensão trágica da vida com seus paradoxos: o enigma da origem, o conflito entre a determinação inconsciente (e histórica) e as escolhas do sujeito, as vicissitudes do sexo e a tensão entre indivíduo e a coletividade. Focalizamos a dimensão mítica de nossa origem greco-indígena para abordarmos o real da existência.
Tebas é aqui – uma tribo outrora sofisticada e próspera hoje em extinção. A pulsão de morte está solta devastando multidões: doenças, rixas e guerras. O céu está vazio e os homens à deriva em busca de um salvador. O oráculo aponta o culpado: Óidipous, que sou eu, é você, e todos nós. Às cegas, o homem – grego, indígena ou urbano - erra pelo mundo sem conhecer o que determina suas ações. Só o saber sobre sua história e seus desejos pode levá-lo a ser capaz de fazer suas escolhas e produzir transformações.
A maldição dos Labdácidas começa com Laios (filho de Lábdacos), cuja desmedida o faz transgredir as leis da hospitalidade e raptar seu amante Crísipo, filho de Pélops, o qual o amaldiçoa: se tiver um filho este filho o matará - eis porque Laios manda matar Óidipous assim que ele nasce. Ao escapar do filicídio e tornar-se mais tarde rei, Óidipous, não quer saber da maldição herdada que, no entanto, está marcada em seu nome e em seu pé: comete o parricídio, casa com a mãe e transmite a seus filhos (entre eles Antígona) o tributo do gozo paterno.

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